David Luiz o novo Gladiador da Luz

O que verdadeiramente valem os quatro pontos de avanço do Benfica sobre o FC Porto? Apenas um momento ou um sinal do destino?

No ponto do mapa onde surge o Inverno, chuva, frio e vento, o futebol abre a sua porta competitiva mais traiçoeira. Esqueçam os oásis e as miragens. Chegou a hora da verdade. Onde nos jogos valem menos as especulações tácticas. Onde os jogadores deixam cair todas as máscaras. Sinceridade total. Também para os treinadores. Perante as palavras receio e coragem, eles não podem hesitar.

Ainda existe muito caminho (muitos jogos) para percorrer. O importante é perceber como Jesus e Jesualdo podem conduzir cada equipa pelas trevas do Inverno até ao destino final. Pelo meio, um intruso também com quatro pontos de avanço. O Braga, de Domingos, o líder que ninguém ainda olha de frente.

Ainda existe muito caminho (muitos jogos) para percorrer. O importante é perceber como Jesus e Jesualdo podem conduzir cada equipa pelas trevas do Inverno até ao destino final. Pelo meio, um intruso também com quatro pontos de avanço. O Braga, de Domingos, o líder que ninguém ainda olha de frente.

No futebol, como na vida, demora tempo a perceber que um "desconhecido" (a chamada equipa sensação, futebolisticamente falando) está a falar a sério. Por isso, Benfica e FC Porto continuam a sentir-se (e a serem vistos) noutra dimensão na questão do título.

Primeiro ponto: este Benfica vale mesmo hoje mais quatro pontos do que o FC Porto. Claramente. Disse-o o jogo da Luz, tem-no dito o campeonato. Na origem da diferença, a construção da equipa. O treinador e o seu laboratório. Uma equipa é como um tubo de ensaio onde se vai metendo diferentes compostos químicos (leia-se estilo de jogadores) até formar uma fórmula eficaz (leia-se equipa e forma de jogar).

Por isso, faltaram os chamados titulares "indispensáveis" e o modelo de jogo (pressão alta, recuperação e saída rápida para o ataque) e o sistema (um 4x1x3x2 sempre altivo, mas sem qualquer pretensão de ser um losango) continuaram a funcionar. Com a invenção de Urreta a surgir numa ala. Com Saviola a surgir nos espaços da "casa vazia" de Aimar, o arquitecto ausente. Com Carlos Martins a lutar, descarregando as emoções na táctica. E ganhou. Naturalmente. Com um golo solitário, mas que nos caminhos dos 90 minutos marcou sempre uma distância maior.

Jesus à chuva. 90 minutos. Jesualdo no banco, escondendo-se dos pingos. 90 minutos, outra vez. São apenas duas imagens, claro, mas já se sabe como as imagens têm muita força. Não acho que valham por mil palavras, mas valem por alguma coisa. Isto é, podem dizer muita coisa.

Neste caso, disseram como o actual FC Porto vive longe, muito longe, da sua própria personalidade. A equipa estava a melhorar, sem dúvida, mas ninguém podia melhorar tanto em apenas uma, duas semanas. Não melhorou e o jogo da Luz mostrou a razão dos quatro pontos de diferença.

O 4x4x3 continua lá. É um bom princípio. A capacidade para o tornar em 4x4x2 é que é mais difícil. E isso, nos grandes jogos, é decisivo. Hulk vive o jogo como uma sucessão de aventuras individuais. Varela joga tão bem quando joga mesmo, no relvado, como quando fica no banco e todos imaginam o que seria com ele no jogo. É o pior sinal que uma equipa pode dar. Meireles não tem força para agarrar sozinho o meio-campo e Belluschi continua ser o o elo perdido que podia dar outra criatividade a toda esta cadeia futebolística.

O processo de crescimento da equipa passa pelo crescimento táctico colectivo, mas, neste momento, o maior drama para Jesualdo será ver as limitações em termos individuais existentes para dar essa "nova vida" ao jogo da equipa. Do outro lado, este jogo, permitiu ao mundo benfiquista (equipa, adeptos...) ultrapassar a "barreira psicológica" que, antes do jogo, parecia voltar a erguer-se em relação à muralha portista.

O campeonato, claro, ainda não acabou. Faltam muitos jogos. 16 "caixas" de 90 minutos para abrir e ver o que está lá dentro. Neste momento, porém, uma coisa é evidente: terá de estar algo de muito diferente para, falando da luta entre estes dois gigantes do nosso futebol, o destino final do campeonato ser diferente do que seria agora.

O novo gladiador

Nunca existiu uma grande equipa sem que, para além dos artistas e dos operários, emergisse, por entre o 11, o chamado "jogador dos jogadores". Aquele que consegue uma relação especial com os adeptos, porque, no fundo, ele, em campo, joga como se fosse um deles.

No actual Benfica é David Luiz o novo "gladiador". Cada corte, carrinho, antecipação ou vez que sai com a bola, é, mais do que um gesto técnico, um estado de alma que agarra a bancada.

Cresceu a ideia de que estava a ultrapassar os limites da agressividade. Faltas a mais. Será? Penso que uma coisa é clara: os seus níveis de agressividade aumentaram incrivelmente. A confiança também. Por vezes, com "osso" a mais, a perna que se solta, mas não me parece futebolisticamente honesto colocar a essência do seu jogo nesse estilo. Este tem outras palavras para o definir e elas estão na personalidade, classe e autoridade. Traços imutáveis, com ou sem bola. É rápido e joga bem de cabeça. Ainda só tem 22 anos e já ninguém lhe dá ordens. Um "gladiador" para, no futuro, brilhar nas melhores "arenas de relva" da Europa.

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