Uma oportunidade perdida para a reconciliação

Foi em Janeiro de 1997 que, de blazer encarnado, sentado na sala de
imprensa do antigo Estádio da Luz ao lado do presidente Manuel Damásio, João
Vieira Pinto anunciou que assinara um contrato definitivo e vitalício com o
Sport Lisboa e Benfica. Mal sabia ele que, três anos depois, seria escorraçado
do clube que defendeu com garras e dentes durante 8 épocas. Sim, despedido,
dispensado. Ganhava muito? Ganhava, mas a culpa não era dele, era de quem lhe
tinha oferecido o contrato.

Saiu e, ao que se sabe, recebeu duas propostas: do Porto, numa altura em
que a rivalidade contra o Benfica atingira o auge, e do Sporting, campeão
nacional à altura, clube com o qual a rivalidade era mais ou menos aquilo que é
hoje. Sem o desejo de voltar ao estrangeiro, onde tinha sido pouco feliz no
Atlético de Madrid, chegou a rejeitar ofertas do Deportivo Coruña e do Barcelona
quando jogava pelo SLB e acabou por rumar ao outro lado da 2ª circular. Fez as
suas opções, era um jogador livre e não o podemos censurar por isso. Não cuspiu
no símbolo como Paulo Sousa e Pacheco.


O que não compreendo é a atitude de alguns benfiquistas que ainda hoje não lhe
perdoam tal "traição" (termo utilizado por eles). Todos os benfiquistas deveriam
estar gratos ao Menino de Ouro, que durante anos carregou o peso da
responsabilidade de levar o Benfica, um miserável Benfica treinado por
incompetentes e dirigido por um bando de ladrões que praticamente assassinaram o
clube, aos mais altos lugares da Liga Portuguesa. É verdade, são factos. Como é
facto que no ano a seguir à sua saída o Benfica terminou num vergonhoso sexto
lugar, o pior de sempre na História centenária do clube.

João Pinto, para mim o "8" que marcou a década de 90, foi o melhor nessa
geração a actuar pelo SLB, como Chalana foi nos anos 80, Nené nos 70, Eusébio
nos 60. É um imortal do Sport Lisboa e Benfica. Era ele o capitão de equipa, um
jogador fabuloso, com muitas épocas de excelência pelo clube, como as de 92/93,
93/94, 95/96, 96/97 algumas boas, como 94/95, 97/98 e 98/99, e uma má,
precisamente a última. Não é benfiquista desde pequenino, mas o seu benfiquismo
foi visível durante todos estes anos, tão grande como o dos maiores
adeptos.

João Vieira Pinto marcou toda uma geração de benfiquistas. Juntamente com
Preud'homme, foi durante muitos anos vítima de um conjunto de colegas de uma
incompetência enorme, cuja qualidade não serviria hoje nem para reserva dos
actuais reservas. Sempre, mas sempre ajudou, foi alvo de tratamento injusto, de
entradas bárbaras e de uma dispensa que soa a ingratidão.

No jogo contra a pobreza, desta segunda-feira, perdeu-se uma boa
oportunidade para a reconciliação com este enorme jogador, cuja carreira não lhe
deu aquilo que merecia. Deu muito mais ao Benfica do que aquilo que o Benfica e
os benfiquistas lhe deram. Espero que num futuro próximo haja lugar à
reconciliação, pois a História do Benfica está escrita e por muito que queriam
rasura-la João Vieira Pinto faz parte dela, sendo figura
importante.

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